quarta-feira, setembro 27, 2006

Fruta madura

Os TORANJA são das raras bandas recentes em Portugal, que se conseguiram impor através da qualidade musical... contrariando a tendência do mercado da "imagem".
Com letras cuidadas, mas fortes, parecem assumir a veia poética como elemento fundamental da sua musica.

Esta música, “fogo e noite”, é um bom exemplo da harmonia entre uma boa letra e um estilo rock mais “old school”.
...eu gosto, vocês não sei!?!?



Fogo e noite

Aconteceu...Por me teres feito cego
Recordo o sabor da tua pele
E o calor de uma tela que pintámos sem pensar
Ninguem perdeu
Enquanto o ar foi cego
Despidos de passados Talvez de lados errados conseguiste-me encontrar

Foi dança...Foram corpos de aço
Entre trastes de guitarras
Que esqueceram amarras e se amaram sem mostrar
Foi fogoQue nos encontrou sozinhos
Queimou a noite em voltaPresos entre chama á solta, presos feitos p'ra soltar

Estava escrito
E o mundo só quis virar
A pagina que um dia se fez.... pesada!!
E o suor
Que escorria no ar
No calor dos teus labios
Inocentes mas sabios
No segredo do luar...

Não vai acabar
Vamos ser sempre paixão
Vamos ter sempre o olhar onde não há ninguem
Dei-te mais!
Valeu a pena voar....Estava escrito
E a noite veio acordar
A guerra de sentidos travada... num céu!

Nem por um segundo largo a mão
Da perfeição do teu desenho
E do teu gesto no meu....
Foi como sopro estranho.....
aconteceu...És noite em mim...És fogo em mim...És noite em mim...

quarta-feira, setembro 20, 2006

Pedra Filosofal

OK, este poema é daqueles que toda a gente conheçe...talvez pertença á meia dzia de poemas mais famosos na nossa língua juntamente com alguns de F. Pessoa, Luís de Camões, Ary dos Santos e outros da mesa craveira.
O que alguns não saberão é que a “Pedra Filosofal” foi escrita por Rómulo de Carvalho, sob o pseudónimo António Gedeão”.
Outros ainda não saberão que a voz que celebrizou musicalmente este poema pertence a Manuel Freire.
Gedeão e Freire juntaram-se para nos recordar que desde uma pedra ou um ribeiro passando pelos descobrimentos e conquistas, até ás maravilhas da ciência moderna tudo é tão natural de ver, criar, e avançar tal e qual como simples e natural é o homem sonhar... pois o sonho comanda a vida!



Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso,
em serenos sobressaltos
como estes pinheiros altos
que em verde e ouro se agitam
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.

Eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma. é fermento,
bichinho alacre e sedento.
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.

Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel.
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa dos ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é Cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança.,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
para-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra som televisão
desembarque em foguetãona superfície lunar.

Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida.
Que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola coloridaentre a mãos de uma criança.

(António Gedeão)

quarta-feira, setembro 13, 2006

SERENATAS "INTEMPORAIS"

Uma das maoires e inesgotáveis fontes de musica e poesia são as tunas.
Como estudante que ainda sou, tive a felicidade de ser abraçado pelo espírito académico e de ter tomado o gosto pelas nossas tunas.

Em homenagem a todas elas, escolhi uma das mais belas serenatas que conheço.
Interpretada pela Tuna do ISEP, mas aqui a representar os estandartes, intrumentos, e capas negras de todas as outras, oiçam e deliciem-se com esta "serenata ao luar."



De noite com o lindo luar
alguém ouviu cantar
sob a sua janela
Foi ver quem era o trovador
que falava de amor
de maneira tão bela

Ao vê-lo não sei o que sentiu
mas eu vi que sorriu
e vibrou de emoção
Por ver que o gentil trovador
lhe falava de amor
nesta linda canção

Eu vi no teu olhar
um feixe de luar
a reflectir no meu
E com perdão de Deus
revi nos olhos teus
a luz que vem dos céus

E o bom Deus perdoou
a visão que inspirou
o meu pobre cantar
Pois creio que Jesus
colheu em ti a luz
com que fez o luar

Se um dia Jesus Nosso Senhor
acabar este amor
e para Si te chamar
De novo nesse reino dos Céus
ouvirás junto a Deus
o trovador cantar

Talves a "negrito" estejam os versos capazes de abrir as portas a muitos corações! Rapazes, aprendam!
E as meninas digam-me, será que resultava?

quarta-feira, setembro 06, 2006

O velho e o novo

A poesia para ser bela não precisa de doce, de falar de amores épicos nem da imensidão do mar….etc. A poesia pode ser bela sendo, dura e fria, agitando consciências e sendo inquietante e desconcertante para a mente de quem a lê e escuta.

É por isto que vos venho falar de António Lobo Antunes e dos Boitezuleika.
O que é que uma coisa tem com a outra? Vamos por partes!

Os Boitezuleika são das bandas recentes aquela que mais me agrada! Têm um excelente álbum chamado “éramos assim”. Ganharam o concurso de bandas da Antena 3.
Se ainda não sabem de quem falo talvez se disser que a sua musica mais conhecida diz o seguinte. “eu sou um cão muito mau, porque não me dão afecto….”.
Eles misturam um pop-rock alternativo com som de bossa-nova e outros ritmos. Um saxofonista simplesmente espectacular, as 2ªs vozes femininas em contraponto ao vocalista, dão a esta banda uma classe inquestionável.

António Lobo Antunes escreveu há uns anos um poema chamado “Bolero do coronel sensível que fez amor em Monsanto”, poema esse que foi transposto para a musica pela voz de Vitorino.

É este poema que vos trago hoje recriado pelos boitezuleika de maneira exemplar! Eles conseguem dar ainda maior ênfase ao conteúdo do poema pela maneira sofrida, pesada e arrastada como ele é cantado.



Eu que me comovo
Por tudo e por nada
Deixei-te parada
Na berma da estrada
Usei o teu corpo
Paguei o teu preço
Esqueci o teu nome
Limpei-me com o lenço
Olhei-te a cintura
De pé no alcatrão
Levantei-te as saias
Deitei-te no banco
Num bosque de faias
De mala na mão
Nem sequer falaste
Nem sequer beijaste
Nem sequer gemeste,Mordeste, abraçaste
Quinhentos escudos
Foi o que disseste
Tinhas quinze anos Dezasseis, dezassete
Cheiravas a mato
À sopa dos pobres
A infância sem quarto
A suor, a chiclete
Saíste do carro
Alisando a blusa
Espiei da janela
Rosto de aguarela
Coxa em semifusa
Soltei o travão
Voltei para casa
De chaves na mão
Sobrancelha em asa
Disse: fiz serão
Ao filho e à mulher
Repeti a fruta
Acabei a ceia
Larguei o talher
Estendi-me na cama
De ouvido à escuta
E perna cruzada
Que de olhos em chama
Só tinha na ideia
Teu corpo parado
Na berma da estrada
Eu que me comovo
Por tudo e por nada

PS: Outra musica dos boitezuleika que vale muito a pena procurar e ouvir chama-se "espero-te na estação(comboio)"