sábado, agosto 04, 2007

O tempero da cor

Se da cultura portuguesa se trata neste espaço, esquecemos por vezes em boa verdade que um país do tamanho de nosso é pequeno para sózinho ser dono de tanta riqueza. .
É pequeno o país porque o império português não se esgota nem acaba com a descolonização, nem tão pouco em livros poeirentos de História mais ou menos remota.
A nossa cultura, chega-nos ainda hoje com o cheiro doce de cacau brasileiro, ou com o calor de uma dança africana temperada com as melhores especiarias orientais.
Da voz dos nossos artistas chega tudo isto, numa mistura de sabores e odores, de danças e esperanças que nos lembram que sós não teríamos tudo o que temos nem seremos metade do que podemos ser.
No abraçar de cores distantes no espaço mas próximas no coração está a chave para mais momentos com este…



…nascido do poema de Alda Lara:

Mãe Negra

Pela estrada desce a noite
Mãe-Negra, desce com ela
Nem buganvílias vermelhas,
nem vestidinhos de folhos,
nem brincadeiras de guisos,
nas suas mãos apertadas.
Só duas lágrimas grossas,
em duas faces cansadas.
Mãe-Negra tem voz de vento,
voz de silêncio batendonas folhas do cajueiro
Tem voz de noite, descendo,
de mansinho, pela estrada
Que é feito desses meninos
que gostava de embalar?
Que é feito desses meninos
que ela ajudou a criar?
Quem ouve agora as histórias que costumava contar?
Mãe-Negra não sabe nada
Mas ai de quem sabe tudo,
como eu sei tudo Mãe-Negra!
Os teus meninos cresceram,
e esqueceram as histórias que costumavas contar
Muitos partiram p'ra longe,
quem sabe se hão-de voltar!
Só tu ficaste esperando,
mãos cruzadas no regaço,
bem quieta bem calada.
É a tua a voz deste vento,
desta saudade descendo,
de mansinho pela estrada.
(Alda Lara, 1951)

3 comentários:

Anónimo disse...

é das minhas preferidas.....

Custódia C. disse...

A partilha das emoções ...

arlete disse...

A Angolana Alda Lara faz parte das poetas de eleicao.
obrigada por esta bencao. soube-me bem ouvir