segunda-feira, novembro 05, 2007

Letras

"Trocaria a memória de todos os beijos que me deste por um único beijo teu. E trocaria até esse beijo pela suspeita de uma saudade tua, de um único beijo que te dei." Miguel Esteves Cardoso


Nem só de prémios Nobel, de Lobos Antunes e demais notáveis são feitas as nossas letras.
Nem só de romances e romancistas, de poemas e poetas se faz a literatura.
O escritor português do qual li mais obras chama-se Miguel Esteves Cardoso, não os romances que escreveu, mas sim os seus livros de crónicas.
“A causa das coisas”, “As minhas aventuras na republica portuguesa”, e “O último volume” entre alguns outros são exemplos da genialidade do autor.
Da análise brilhante da tragédia até à gargalhada vinda do humor corrosivo e irreverente é um pequeno passo.
Miguel Esteves Cardoso é um crítico, escritor e destacado jornalista português, licenciou-se em Estudos Políticos e Doutorou-se em Filosofia Política.

Desde o arrebatador "Elogio ao Amor" até às hilariantes explicações dos mais peculiares hábitos do cidadão português, Esteves Cardoso mostra compreender como poucos o país e o seu povo. Ensina-nos que a tomada de consciência dos nossos defeitos e virtudes passa em primeira instância pela capacidade de rir de nós próprios…de levar o exagero ao ponto do ridículo e mesmo assim ser sábio nas palavras ditas.

Talvez o seu lado polémico e excentrico acentuado por aparições em programas televisivos como "raios e curiscos" ou "a noite da má língua", ou a participação ao lado de Paulo Portas no jornal "O Independente" tenham desviado a atenção de muitos da sua verdadeira capacida literária...mas os livros estão à venda logo ainda não é tarde para quem quiser descobrir um grande autor!

"(...) Quando se é feliz muito novo, a única obsessão que se tem é aguentar a coisa. Vive-se ansiosamente com a desconfiança, quase certeza da coisa piorar. O pior é que as pessoas que se habituaram a serem felizes não sabem sofrer. Sofrem o triplo de quem já sofreu.É injusto mas é assim. No amor é igual. Vive-se à espera dele e, quando finalmente se alcança, vive-se com medo de perdê-lo. E depois de perdê-lo, já não há mais nada para esperar. Continuar é como morrer. As pessoas haviam de encontrar o grande amor das suas vidas só quando fossem velhas. É sempre melhor viver antes da felicidade do que depois dela." Miguel Esteves Cardoso

5 comentários:

Anabela disse...

Olha, nisto somos iguais. o que eu "amo" a cabeça deste homem... MEC, l'enfant terrible toujours...

... que diz uma coisas muito, muito, mas mesmo muito acertadas, no meio de alguma loucura...

Gostei, ó pah!

Anónimo disse...

Confesso que não conheço a obra do autor, mas fiquei com vontade de conhecer... Vai ser o meu proximo passatempo, ler a obra de Miguel Esteves Cardoso. ;)

Bruno Pires

Custódia C. disse...

Gosto muito do MEC e continuo a pensar que não tem o devido realce na nossa praça.
Escreve maravilhosamente :)

arlete disse...

gosto de ler MEC,e divertido.nao gosto dele na televisao.

Rain disse...

Um dos meus posts é precisamente o elogio do amor de MEC, muito bom. E tudo o que referiste também. Gostei especialmente "A vida inteira", "O amor é fodido" e "Causa das coisas".

Deixo aqui mais um dos tantos fantásticos excertos que se podia deixar. Espero que gostes.
"«É natural que tenhas medo que te apanhem. A guerra continua tão estranha. Dum dia para o outro, já não sabemos que esperar. Tomamos os comprimidos, como todos os outros, só que o efeito é o contrário do que pretendemos. Nós queríamos ser felizes.
Ninguém nos acompanha nisto. A noite desce como um pano. As pessoas desaparecem, como se fossem para casa. Não temos maneira de saber o que está certo.
Dou-te as flores de onde vim, que vieram comigo, que atravessaram o mundo não se sabe bem porquê. Os teus olhos continuam iguais. É preciso insistir. Não fazemos diferença um do outro. Percorremos distâncias enormes, junto dos faróis e dos comboios, com a música muito alta, sem dizer nada que nos interesse. Não nos conhecemos. Nunca seremos interessantes. O carro precipita-se em vez de nós. A paisagem substitui as nossas caras.
Eu gostaria tanto de amar-te. Quando te tomo nos meus pensamentos, vai a noite escura ao largo da gente e das árvores, e eu penso que a minha alma te pertence. Pudera eu, meu amor, ou lá o que és, que pudesse pertencer a alguém.»