terça-feira, março 20, 2007

Biografia do amor

Voltando à música, sei que há muita gente que não vai partilhar da minha opinião , que pura e simplesmente não gosta do Sérgio Godinho.
Mas o que é certo e que ele faz parte da história da música portuguesa de forma marcante. Tanto pela extensão da carreira e numero de discos vendidos, bem como pela qualidade poética e musical.
Vamos então fazer um pequeno exercício, vos que não apreciam vão esquecer o timbre da voz de Sério Godinho e a sua dicção tão característica. Para os que não partilham da ideologia de esquerda do cantor e de muitas das suas letras umas mais politizadas do que outras, vamos também por momentos pôr de lado essa faceta da sua obra.

Embora não tenha qualquer problema em dizer que admiro Sérgio Godinho um pouco por toda a sua obra creio que para comprovar o porquê do lugar deste senhor entre os nossos “maiores” podemos dar-nos ao luxo de olhar apenas um exemplo mais consensual.
Vamos concentrar-nos numa colectânea chamada “Biografias do Amor”.
São 20 canções que cantam um amor sem esquerda nem direita através de belos poemas acompanhados de boas músicas.

Podia ser outra qualquer…escolhi esta:
A NOITE PASSADA

A noite passada acordei com o teu beijo
descias o Douro e eu fui esperar-te ao Tejo
vinhas numa barca que não vi passar
corri pela margem até à beira do mar
até que te vi num castelo de areia
cantavas "sou gaivota e fui sereia
"ri-me de ti "então porque não voas?"
e então tu olhaste
depois sorriste
abriste a janela e voaste
A noite passada fui passear no mar
a viola irmã cuidou de me arrastar
chegado ao mar alto abriu-se em dois o mundo
olhei para baixo dormias lá no fundo
faltou-me o pé senti que me afundava
por entre as algas teu cabelo boiava
a lua cheia escureceu nas águase então falámos
e então dissemos
aqui vivemos muitos anos
A noite passada um paredão ruiu
pela fresta aberta o meu peito fugiu
estavas do outro lado a tricotar janelas
vias-me em segredo ao debruçar-te nelas
cheguei-me a ti disse baixinho "olá",
toquei-te no ombro e a marca ficou lá
o sol inteiro caiu entre os montes
e então olhaste
depois sorriste
disseste "ainda bem que voltaste"

5 comentários:

Andreia disse...

http://www.radioblogclub.com/

;)

Custódia C. disse...

Pois soube-me a pouco, pois soube-me a pouco, pois soube-me a pouco, pois soube-me a pouco .....

Já percebeste: adoro o Sérgio :)

as velas ardem ate ao fim disse...

E agora la estou eu a chorar...

Anónimo disse...

só quem não tiver sensibilidade é que este homem lhes passa ao lado. possui um timbre inimitável e não deixa de ser diferente o poeta.Grande.

Maçã de Junho disse...

Andas aí a partir corações
como quem parte um baralho de cartas
cartas de amor
escrevi-te eu tantas
às tantas, aos poucos
eu fui percebendo
às tantas eu lá fui tacteando
às cegas eu lá fui conseguindo
às cegas eu lá fui abrindo os olhos

E nos teus olhos como espelhos partidos
quis inventar uma outra narrativa
até que um ai me chegou aos ouvidos
e era só eu a vogar à deriva
e um animal sempre foge do fogo
e mal eu gritei: fogo!
mal eu gritei: água!
que morro de sede
achei-me encostado à parede
gritando: Livrai-me da sede!
e o mar inteiro entrou na minha casa

(...)

Mas isto é um canto
e não um lamento
já disse o que sinto
agora façamos o ponto
e mudemos de assunto
sim?

Beijo muito grande J.T.
Maçã de Junho