segunda-feira, junho 25, 2007

Preto no branco

Já neste blog fiz referência a Antóneo Gedeão, mas é um terrivelmente injusto reduzir a sua obra à "Pedra Filosofal".
A obra de Gedeão não se resume ao poema “Pedra Filosofal”, nem à “calçada de Carriche” nem tão pouco se reduz à poesia.

António Gedeão , é mais que um poeta, é um homem da ciência, provido de uma sensibilidade e um humanismo por vezes comovente.

Pseudónimo de Rómulo de Carvalho, António Gedeão "licenciou-se em Ciências Físico-Químicas pela Universidade do Porto em 1931, traduziu como ninguém, a ciência para os leigos, desvendando segredos científicos com a mesma simplicidade com que os exemplificava.

Afirmando-se como um dos mais brilhantes e talentosos criadores lusófonos do século XX, professor, pedagogo e historiador da ciência , demonstro um espírito extremamente marcado pelo cepticismo e pela ironia, sempre presentes nos seus poemas."
Há poucos dias um amigo de comprovado bom gosto mostrou-me um video que é um autêntico tesouro de um poema de A. Gedeão cantado por Manuel freire.
Lágrima de Preta é um poema comovente na sua simplicidade, é um hino à luta anti-racista que Gedeão publicou num tempo em a guerra colonial e o regime abafavam o evoluir dos ideais de tolerância e de irmandade entre os povos.
Neste poema Gedeão usa a poesia para explicar cientificamente que afinal a lágrima de um preta é tão cristalina como outra qualquer.

Será este poema parte obrigatório no programa de ensino da nossa língua nas escolas? Se não é, devia ser. Pois a formação moral deve ser a base de todo o conhecimento.
Aqui interpretado por Manuel Freire:




Encontrei uma preta
que estava a chorar
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.


Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.


Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.


Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.


Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:


nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.


Lágrima de preta
(António Gedeão)
Ps: Uma palavra de agradecimento à 100 SENTIDOS por ter votado neste blog para as 7 marvilhas da blogosfera... não posso deixar de o considerar um exagero pois limito-me a publicar obra feita por quem realmente merece admiração.

4 comentários:

Anónimo disse...

Caro amigo,
O bom gosto é todo teu, e não passa despercebido por quem aqui gosta de vir de vez em quando.
Romulo de Carvalho foi de facto um cientista de reconhecido mérito, mas mais do que isso um grande professor, entendendo a ciência como algo de todos e para todos. Como se tal não chegasse, surge dentro dele um Gedeão, personagem responsável por um novo tipo de linguagem poética, ao transportar para a poesia um claro romantismo que Romulo nutria pelo que fazia.
Vale a pena conhecer.

Abraço

Anónimo disse...

Oi, achei teu blog pelo google tá bem interessante gostei desse post. Quando der dá uma passada pelo meu blog, é sobre camisetas personalizadas, mostra passo a passo como criar uma camiseta personalizada bem maneira. Até mais.

AA disse...

OFF-TOPIC - com desculpas:

Caro leitor/comentador do blogue Spring Gold (http://spring-gold.blogspot.com/):

No post Campanha a sério..., o blogger Kanoff escreve: Uma coisa é certa: copiar não é nada bonito.

Acontece que este texto em si é um plágio do post "Campanha a sério..." de Francisco Almeida Leite no blogue Corta Fitas

O autor foi devida e atempadamente avisado para (num primeiro comentário, não aceite) identificar com a proveniência todos os posts plagiados do meu próprio blogue (A Arte da Fuga); verificando eu que todos os posts do Spring Gold são integralmente plagiados, imagens incluídas, exigi (em comentário que foi igualmente ignorado) que fossem retirados todos e quaisquer posts do AADF, e que Kanoff comunicasse o facto aos seus próprios leitores.

Uma vez que o aviso não foi atendido, venho portanto dar conta desta conduta imprópria.

Cumprimentos,

António Costa Amaral

PS : uma simples procura no google descobre facilmente a proveniência dos textos do Spring Gold, uma vez que todos os textos foram copiados de referências da blogosfera. (impressionante, até copia do José Pacheco Pereira e do Francisco José Viegas - sempre sem identificar a fonte)

vieira calado disse...

Faz bem divulgar estes vultos.